Cultura do grau
A Galeria Mari’Stella Tristão, no Palácio das Artes, recebe, a partir do dia 12 de fevereiro a exposição “Beagrau”, do cicloartivista Gil Sotero. A mostra integra a Mostra Habilitandos 2024 da Escola Guignard e propõe um olhar atento e sensível sobre a cultura do grau, prática esportiva e performática popular entre jovens das periferias da Região Metropolitana de Belo Horizonte.






Por meio de uma série de fotografias e depoimentos, a exposição retrata a experiência de grupos que se reúnem aos finais de semana na região da Lagoa da Pampulha para realizar manobras sobre duas rodas, ocupando o espaço urbano com suas bikes estilizadas. O artista acompanhou vários encontros dessa juventude em 2024. “Mais do que um esporte, o grau é uma forma de expressão e resistência, um meio de conexão entre os jovens e a cidade” afirma Sotero.
No entanto, como muitas manifestações culturais das periferias, o grau é frequentemente marginalizado ou ignorado, simplesmente por ser praticado por jovens da periferia. O que para alguns é um ato de liberdade e criatividade, para outros é visto com preconceito, criminalização e falta de reconhecimento como prática esportiva legítima. “Beagrau” busca dar visibilidade a essa cultura, destacando sua potência estética, social e coletiva.






Além do registro fotográfico, Gil Sotero incorpora elementos visuais que reforçam a identidade da cena retratada. Materiais encontrados nas ruas e peças de bicicleta foram reaproveitados na composição da mostra, com aros transformados em molduras, estabelecendo uma relação direta entre a exposição e o universo do grau.
Para o artista, a bicicleta sempre foi um símbolo de transformação pessoal e social. “Esse trabalho é um pouco autobiográfico, pois na minha adolescência a bicicleta foi um objeto transformador, que me deu outra perspectiva da cidade e também sobre a região onde eu morava, na Bahia”, explica Gil Sotero.
Um dos destaques da exposição é Mikaela, de 20 anos, que se pratica o surfing bike. Ela conta que sua paixão pelas bicicletas surgiu por influência do namorado. “Comecei a ter essa paixão por bike pelo meu namorado, a gente começou a andar junto e ter esse desenvolvimento juntos. O grau é paz, quando você tá mal, pega a bike, sai para andar e você fica em paz”, completa Mikaela.

Mais do que uma exposição, “Beagrau” é um convite à reflexão sobre o direito à cidade, a ocupação dos espaços públicos e o protagonismo da juventude periférica.






A exposição é o resultado da habilitação de Gil Sotero em Fotografia na Escola Guignard – UEMG, sob a orientação do também fotógrafo Tibério França. O trabalho reflete a pesquisa do artista sobre a cultura do grau e sua relação com a ocupação do espaço urbano, explorando a bicicleta como meio de transporte e também símbolo de identidade e resistência.
A instalação conta ainda com vídeos, depoimentos e uma extensão virtual com mais imagens realizadas em vários encontros na capital mineira.

Sobre o artista
Nascido em Salvador, Gil Sotero iniciou sua trajetória artística na literatura, ainda nos anos 1990, na capital baiana. Posteriormente, passou pelo teatro e, em 2003, mudou-se para Belo Horizonte, onde estudou Comunicação na PUC Minas e trabalhou na TV Cultura/Rede Minas.
Nos últimos anos, tem se dedicado à fotografia, produzindo exposições que abordam a cultura da bicicleta nos centros urbanos, tanto em Belo Horizonte quanto em Cuba. Atualmente, estuda artes plásticas na Escola Guignard e divide seu tempo entre artes e cicloativismo.
Dentre suas exposições anteriores, destacam-se: “BHCicleta” – 2021
“Contagem de Ciclistas” – Itinerante, 2017
“BH Cyclechic” – 2015 (Centro de Referência da Moda)
“As Bicicletas de Cuba” – Bicifest UNA, 2016
Com “Beagrau”, Gil Sotero dá continuidade a essa pesquisa, ampliando seu olhar sobre as múltiplas formas de expressão e resistência que emergem no cotidiano das cidades.
https://www.instagram.com/beagrau_bike
SERVIÇO
A abertura da exposição acontece no dia 11 de fevereiro, às 19h, e a visitação será gratuita entre 12 de fevereiro e 9 de março, nos seguintes horários: Terça a sábado: 9h30 às 21h
Domingos e feriados: 17h às 21h
Local: Galeria Mari’Stella Tristão – Palácio das Artes
Endereço: Av. Afonso Pena, 1537, Centro, Belo Horizonte – MG