O Guidão que Conta Histórias

Aos 67 anos, Vera Marques já pedalou por 31 países e percorreu 42 rotas mundo afora. O que poderia parecer apenas uma coleção de viagens, na verdade é uma jornada de autoconhecimento, coragem e liberdade. Entre desafios, silêncios e encontros inesperados, ela descobriu que a bicicleta não é só um meio de transporte, mas um caminho para viver a vida de forma mais simples, intensa e verdadeira. Nesta entrevista, Vera compartilha sua trajetória e mostra que idade, gênero ou solidão nunca foram barreiras — e sim motores para novas descobertas.

Vera, por que você começou a viajar de Bicicleta?

Viajar o mundo de bicicleta nasceu de uma inquietação e de uma vontade de viver a vida de forma mais simples e verdadeira. Eu queria mais do que apenas visitar lugares — queria sentir a estrada, o silêncio das paisagens e, principalmente, os encontros que acontecem no caminho. A bicicleta me deu a liberdade de ir ao meu próprio ritmo, de estar próxima das pessoas e de experimentar a diversidade cultural de forma simples e intensa. No caminho, aprendi a ser resiliente diante de imprevistos, a planejar com autonomia e a valorizar cada encontro. Foi uma decisão de vida que uniu meu desejo de explorar com um aprendizado profundo sobre persistência, empatia e adaptação — qualidades que levo comigo em qualquer desafio.

Viajar assim me mostrou que o mundo é imenso, mas ao mesmo tempo tão acessível quando estamos dispostos a abrir espaço para o inesperado e confiar na generosidade do caminho.

Foi por isso que escolhi a bicicleta: porque ela me conecta à essência da viagem e à essência da vida — simples, direta e profundamente humana.

Quando percebeu que poderia viajar sozinha?

Percebi que podia viajar sozinha quando encarei minha primeira viagem mais longa sem companhia o— Caminho de Santiago de Compostela

Estava insegura, mas ao lidar com imprevistos — como encontrar um caminho alternativo ou pedir ajuda em uma cidade pequena — descobri que eu tinha mais recursos internos do que imaginava.

A cada vez que eu desmontava e montava minha bicicleta, organizava minhas bagagens e definia meu roteiro do dia, sentia que estava construindo minha própria estrada. Essa autonomia foi a chave para entender que eu podia ir ainda mais longe sozinha.

No início, achei que viajar sozinha seria solitário, mas em algum momento, durante uma viagem pedalando entre montanhas, percebi que aquele silêncio era precioso. Não era solidão, era solitude. Ali entendi que estar só podia ser uma forma de plenitude.

Os imprevistos também acrescentam aprendizados. Por exemplo, em uma viagem longa, sem sinal de celular, precisei confiar apenas no meu instinto e no mapa — não saio sem meu mapa físico. Cheguei ao destino cansada, mas orgulhosa. Foi nesse momento que percebi que a solidão não era um peso, mas uma aliada: eu podia confiar em mim mesma.

Como a idade não é um impeditivo

Muitos acham que a idade é um limite, mas eu descobri que ela é, na verdade, uma aliada. Viajar depois dos 60 -hoje tenho 67 -, me trouxe a calma para aproveitar cada dia, a maturidade para lidar com imprevistos e a coragem de fazer o que talvez antes eu não ousasse.

Costumo dizer que a idade não me limita, me liberta. Ela me deu a coragem de realizar o que antes parecia distante. Viajar de bicicleta pelo mundo não foi apesar da minha idade, mas por causa dela — porque é nessa fase que aprendi a valorizar o essencial e a não adiar mais os meus sonhos.

Muita gente me dizia que seria perigoso. Mas cada quilômetro pedalado provou o contrário. Descobri que resistência não está só no corpo, mas na determinação. A idade não me freou; pelo contrário, me deu ainda mais vontade de provar que é possível.

Eu acredito que a idade nunca deveria ser vista como um impeditivo, mas como um acúmulo de histórias e aprendizados que nos preparam para viver ainda mais intensamente. Se algo mudou para mim, é que hoje eu viajo mais consciente, mais conectada e ainda mais livre.

Qual foi o maior desafio que enfrentou pedalando sozinha?

Cada viagem tem seus desafios, mas um dos maiores foi pedalar por longos trechos sem sinal de celular, enfrentando chuva e estradas desconhecidas. No começo parecia assustador, mas aprendi a confiar no meu instinto, no planejamento e na generosidade das pessoas. Aquela experiência me mostrou que a resiliência é construída quilômetro a quilômetro.

Na estrada, já se sentiu solitária?

Muitas vezes me perguntam se não me sinto solitária. A verdade é que aprendi a diferenciar solidão de solitude. Solidão é ausência, mas solitude é presença — de mim mesma, da estrada, do momento. Na bicicleta, aprendi a valorizar o silêncio e a transformar estar só em estar inteira.”

Houve dias em que pedalei por horas sem ver ninguém. No início, parecia solidão. Mas aos poucos, percebi que aquele silêncio era um presente: me trouxe calma, clareza e força para seguir. Ali entendi que estar só também pode ser liberdade.

O que é solitude para você?

Solitude, é o estado de estar só sem sentir solidão. É quando a pessoa escolhe ou aceita estar consigo mesma e vive isso de forma positiva, como um momento de paz, introspecção e conexão interior. A diferença básica é a solidão é uma sensação de vazio, falta de companhia, ausência. e solitude é uma sensação de plenitude, liberdade e presença consigo mesmo. Por exemplo, na estrada sozinha, se sinto falta de alguém e lamento essa ausência, eu sofro — isso é solidão. Já quando percebo que o silêncio me traz paz, me permite ouvir meus próprios pensamentos e sentir o momento de forma única, isso é solitude: estar bem consigo mesma.”

Solitude é transformar o “estar só” em uma força em vez de uma carência.

Como é ser mulher e viajar sozinha?

Ser mulher e viajar sozinha significa lidar com preconceitos e cuidar da própria segurança, sem deixar que isso limite a viagem. Para mim o fato de ser mulher e sozinha é mais uma afirmação de coragem e liberdade. É desafiar estereótipos que dizem o que podemos ou não fazer e mostrar que a estrada não tem gênero — ela responde à vontade de cada um de explorar, aprender e se redescobrir.

Claro, existem desafios, mas cada decisão tomada na estrada fortalece a confiança e a autonomia.

Mais do que conhecer lugares, viajar sozinha como mulher é se conectar profundamente com o mundo e consigo mesma, provar que a liberdade é possível em qualquer idade e transformar cada quilômetro em uma história de empoderamento e descoberta.

Que aprendizado a estrada trouxe sobre você mesma?

A estrada me ensinou a confiar em mim mesma, a lidar com desafios inesperados e a valorizar cada encontro. Descobri que sou mais forte, mais paciente e mais curiosa do que imaginava. Cada viagem me transformou, não apenas como viajante, mas como pessoa.

Que conselho daria para outras mulheres ou viajantes que querem se aventurar sozinhos(as)?

Meu conselho é simples: planeje, mas não tenha medo de improvisar. Confie na sua capacidade, respeite seus limites e esteja aberta aos encontros e aprendizados pelo caminho. Viajar sozinha é uma oportunidade de liberdade, autoconhecimento e coragem — e não existe idade certa para começar.

Deixe sua opinião

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Aqui você encontra dicas de peças e produtos no precinho para sua bike, além de roupas, vestimentas e acessórios para você.
Aqui você vai pedalar mais e economizando muuuito!

Promoções em Destaque

Mais Vendidos

Peças em Promoção

Roupas em Promoção

Suplementos em Promoção

Contato