No último sábado, 22 de fevereiro de 2025, a Câmara de Dirigentes de Lojistas de BH, em parceria com o Bike Anjo BH e Tweed Ride BH, promoveu um bike tour pela região central da capital mineira. A iniciativa reuniu ciclistas para um percurso que celebrou o comércio tradicional de Belo Horizonte, destacando a importância de preservar a memória da cidade.

O ponto de partida foi o Centro Cultural CDL, espaço dedicado à história do comércio na cidade. O local abriga exposições e documentos que resgatam a evolução do comércio belo-horizontino ao longo dos anos. Após uma visita guiada, os ciclistas partiram em direção ao Parque Municipal Américo Renné Giannetti, inaugurado em 1897 e inspirado nos modelos paisagísticos franceses. O parque, que já foi cenário de inúmeros encontros culturais, proporcionou um momento de conexão com o passado, antes do grupo seguir para os estabelecimentos que marcaram gerações de belo-horizontinos.

A visita ao museu do CDL surpreedeu participantes. “Um evento excelente! A condução do guia turístico Gudu pelas dependências da CDL foi a melhor possível. Com muita competência e dedicação. Eu não sabia que a CDL tinha um museu. E eu gostei muito de ter participado”, Javert Denilson, Voluntário na Ong Bike Anjo.
A primeira parada gastronômica foi no tradicional Café Nice, inaugurado em 1939 e um dos cafés mais emblemáticos da cidade. Frequentado por intelectuais, políticos e artistas, o local ainda preserva sua atmosfera nostálgica, com balcões de madeira e um aroma inconfundível de café passado na hora. Durante a visita, os participantes puderam conhecer mais sobre a importância do Nice como ponto de encontro e resistência da boemia belo-horizontina.

Outro ponto alto do trajeto foi a visita ao Café Palhares, fundado em 1938 e um dos estabelecimentos mais icônicos da cidade. Conhecido por seu famoso Kaol (abreviação de Kachaça, Arroz, Ovo e Linguiça), prato tradicional servido no balcão há décadas, o local preserva a autenticidade dos bares antigos de Belo Horizonte. Com suas paredes repletas de história e clientes fieis que atravessam gerações, o Palhares é um símbolo da resistência do comércio tradicional em meio às transformações da cidade.
Seguindo o trajeto, os ciclistas fizeram uma parada no Nonô – Rei dos Caldos, um dos bares mais tradicionais de Belo Horizonte. Fundado em 1967, o estabelecimento se tornou referência quando o assunto é caldo de mocotó, servido a qualquer hora do dia ou da noite. Para os participantes do Tweed Ride, a visita foi uma oportunidade de degustar um dos sabores mais autênticos da cidade e relembrar histórias do comércio boêmio da capital.

Outro ponto que despertou grande interesse no grupo de ciclistas foi a Casa Salles Cutelaria, fundada em 1881, ou seja antes da inauguração oficial de Belo Horizonte, que ocorreu em 1897. Assim, o estabelecimento se tornou a primeira loja da cidade que ainda está em funcionamento. O estabelecimento tem mais de um século de história e a loja se especializa em facas, canivetes e utensílios de corte, armas e equipamentos de camping, mantendo viva a tradição artesanal, passada de geração em geração. O local é um verdadeiro museu vivo do comércio, com móveis de madeira escura e vitrines repletas de peças que contam histórias.

Para finalizar o passeio, o grupo seguiu para o Mercado Central, inaugurado em 1929. Considerado um dos mercados mais importantes do Brasil, ele reúne desde quitandas mineiras até artesanato, ervas medicinais e os famosos queijos e doces típicos. O passeio agradou a todos que participaram e inclusive com reconhecimento do apoio da Guarda Municipal. “O apoio da guarda municipal foi fundamental ali. Ainda mais considerando q foi num sábado no final da manhã, onde o trânsito é caótico no centro. O trajeto foi bem curto e encaixou os pontos escolhidos para serem expostos, foi super sossegado e sem atropelos” declarou Mariana de La Rosa, advogada.

A bicicleta e o impacto positivo no comércio de rua
Mais do que um simples passeio de bicicleta, a iniciativa reforçou a importância de valorizar o comércio tradicional e a história de Belo Horizonte. O Tweed Ride BH, com seu espírito retrô e olhar atento ao passado, mostrou que pedalar pode ser também um ato de preservação cultural e melhora na economia.
Para os participantes foi uma viagem ao passado e também a oportunidade de conhecer lugares antes desconhecidos. “Esses são lugares e empresários que cresceram junto com a cidade. Locais que viraram referências para a população da capital e para os visitantes do interior do Estado e de outros lugares do país e do mundo. O pedal proporcionou esta interação entre conhecer o nosso patrimônio cultural e, principalmente, permitir a vivência e a interação com as pessoas que ajudaram a manter vivos a cultura e a história da cidade” declarou o jornalista e ciclista Ike Yagelovic, da empresa Ciclonavegantes.
“Parabéns, a CDL pelo ciclopasseio pelo comércio histórico de BH. Participei e aprendi um pouco sobre os comércios tradicionais, suas histórias e curiosidades. Interessante que alguns comércios conservam mobílias e objetos desde a fundação,preservando a memória dos antepassados” declarou Altair Russo, funcionário públíco.
Com a cidade se transformando rapidamente, eventos como esse reafirmam o compromisso com a memória e a identidade belo-horizontina, conectando o passado ao presente de forma leve, elegante e inspiradora e também ajudando o comércio de rua.
A bicicleta tem um impacto extremamente positivo no comércio de rua, impulsionando a economia local de diversas formas. No livro “Bikenomics: How Bicycling Can Save the Economy”, de Elly Blue, a autora argumenta que ciclistas tendem a gastar mais no comércio local do que motoristas, pois fazem compras com mais frequência e interagem melhor com o ambiente ao seu redor.
Uma das referências do livro destaca que, ao contrário dos motoristas, que costumam buscar estacionamentos próximos e realizam compras em grandes quantidades esporadicamente, ciclistas fazem compras menores e mais recorrentes. Isso gera um fluxo constante de clientes para os comerciantes. Além disso, ruas mais amigáveis para bicicletas tornam as áreas comerciais mais atraentes, promovendo um ambiente vibrante e seguro para pedestres e consumidores.
Outro ponto levantado em Bikenomics é que investir em infraestrutura cicloviária pode aumentar as vendas no comércio de rua. Um estudo citado no livro mostra que, em cidades como Portland (EUA), lojas localizadas em áreas com boa infraestrutura para bicicletas registraram crescimento no faturamento após a implementação de ciclovias e medidas de incentivo ao uso da bike.
Além disso, bike tours são fundamentais para promover o turismo sustentável e histórico, incentivando a preservação de locais e tradições que fazem parte da identidade cultural de uma cidade. “Ao integrar a atividade física com a valorização do patrimônio histórico, o evento promoveu a saúde e o bem-estar, e também contribui para a conscientização dos lojistas sobre a importância do acesso aos seus estabelecimentos através da bike”, concluiu Ike Yagelovic.
Assim, a bicicleta não apenas melhora a mobilidade urbana e a sustentabilidade, mas também fortalece a economia local, criando cidades mais dinâmicas e atrativas para o comércio de rua.